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Apaguem os indesejados!

Francisca Silva

13 Setembro 2023

Não-nascidos e não-mortos, mas quase: eis duas das classes de seres humanos mais ameaçadas na cultura ocidental contemporânea. "Não-nascidos mas quase" são aqueles que já existem, mas ainda não nasceram e que, por habitarem ainda dentro do corpo de suas mães, surpreendentemente, têm sido privados da proteção moral que deveria ser motivo de honra da sociedade.

"Não-mortos mas quase" são os que, por probabilidade estatística estão agora mais perto da morte, já não são funcionais para a máquina político-económica, e não raro já foram abandonados pelas suas famílias, explícita ou implicitamente.

Bebê recém-nascido

Foquemos por agora a nossa atenção nos não-nascidos. A promoção do aborto sob os eufemismos "pró-escolha", “direitos da mulher”, “direitos reprodutivos”, etc., conseguiu estabelecer no sistema o genocídio dos não-nascidos, e de seguida escondê-lo dos sentimentos morais de muitos indivíduos.

 

Sou mãe de um nascido e de uma não-nascida. Como tal, quando olho para o meu filho de 1 ano e me lembro de quando estava grávida dele, sei que existe uma continuidade do ser que ele é, um ser que começou a sua existência silenciosamente, como todos nós começamos. Não bastasse isso, carrego agora no ventre outro ser, desta vez uma mulher, que me mostra essa realidade segundo a segundo, uma realidade palpável e concreta que se impinge a mim a cada movimento que ela faz. Sempre que ela se mexe no meu ventre eu sei que não é pelos mandados do meu cérebro como acontece com os movimentos dos meus braços, mas sim porque ela tem também um cérebro e um sistema nervoso independente que comanda os movimentos do seu corpo. Sei, portanto, sem sombra de dúvida, que ela não sou eu, e que a minha autoridade sobre ela e o seu corpinho existe, por ser sua mãe, mas essa autoridade não é absoluta nem inconsequente.

 

Por mais que se nomeie os seres humanos que se encontram em diferentes estágios de desenvolvimento com nomes distintos (criança, adolescente, adulto, idoso, feto, embrião) eles não deixam de ter a sua continuidade pessoal, e a partir do momento em que cada um vem à existência, não deixa de ser humano. Desse modo, o “punhado de células” é um ser humano vivo. É curioso como essa expressão, “punhado de células”, veio a significar “coisa que não vale nada”, quando a própria definição de células é que elas são as unidades estruturais e funcionais que constituem todos os seres vivos. Portanto, pergunto: por que é que eu, que sou um bando de células, devo ter o direito de matar o meu filho sem consequências, e indo mais longe, devo olhar para esse acto como isento de peso moral, e por vezes até como desejável, apenas porque este ser se encontra num estágio desenvolvimento inicial?

 

Esta pergunta torna-se mais clara quando observamos que a morte de um feto ou embrião no ventre pode ser nomeada de maneiras diferentes que dependem inteiramente da relação que os adultos ao seu redor, especialmente a mãe, criam com ele, isto é: quando a criança não é desejada e a mãe deseja abortar, a sua morte não tem peso emocional, é chamada de “interrupção” de uma gravidez - dando enfase à gravidez e não à vida da criança; mas quando esse ser é desejado pelos pais e morre no ventre por algum motivo chamamos a isso “perda gestacional”.

 

A “perda gestacional”, ao contrário da “interrupção voluntária da gravidez” é um acontecimento pesado, triste, que implica que haja um luto, bem como a expressão e exploração de um rol de emoções fortes, muitas vezes levando as pessoas que a sofrem a necessitar de ajuda profissional. Desta observação fica claro que o valor do tal “punhado de células” varia de acordo com o facto de ser desejado ou não. Isto significa que a proteção dos mais vulneráveis está dependente dos afectos e vontades dos mais fortes, o que se traduz numa relação de poder, e não numa relação moral. Por outras palavras, trata-se da diferença entre encarar a vida egoisticamente tendo como referência de tudo o nosso próprio umbigo, ou estar nela com a consciência de que existe algo maior e anterior a cada um de nós e tudo o que somos reporta a essa fonte, sendo a moralidade a medida da aproximação que temos com ela. 

 

Há que fazer uma ressalva, no entanto. Se concluímos que o aborto e a promoção do aborto são imorais, como explicar que sejam defendidos por uma aparente maioria na sociedade? É que a premissa fundamental da maioria das pessoas que defendem o aborto como um direito necessário está radicada no conceito que elas têm de ser humano. Quando elas pensam em aborto, pensam primeiro na gravidez, que é um processo fisiológico delicado que a mulher sofre. Então, se é ela quem sofre, o justo é que seja ela a determinar o seu rumo. No entanto, ela não é a única que sofre esse processo, pois a criança está lá do início ao fim, como ser senciente, experienciando também uma gravidez, mas de outro ponto de vista. Neste processo, apenas a mãe tem voz audível, e por isso apenas a sua palavra tem impacto. Ainda assim, vale a pena imaginar as coisas que um bebé no ventre poderia sentir e expressar se pudesse ser ouvido. E quando as pessoas que defendem o aborto são confrontadas com a presença do bebé, imaginam-no como o tal “punhado de células” que não é nada, não tem valor, não tem unidade, não é uma pessoa, não é um ser humano - e foi aqui que a sua visão da realidade foi distorcida por décadas e décadas de propaganda massiva. Porém, não há como uma pessoa normal, mentalmente saudável e bem adaptada, acreditar que o assassínio de alguém pelo motivo de ser indesejado deve ser encorajado. E é óbvio que essas pessoas normais, a maioria, só podem aceitar e promover o aborto se não tiverem na consciência o que ele de facto é, e é por isso que assistimos a esta tragédia no nosso tempo.

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Escritora

FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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