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Dissonância cognitiva

Francisca Silva

24 Março 2021

A teoria da dissonância cognitiva explica como os nossos actos podem provocar uma alteração nas nossas opiniões e convicções. Seria natural pensar o oposto – que também é verdadeiro – porém estamos perante um fenómeno sobre o qual uma passagem de S. Mateus nos pode auxiliar o entendimento:

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O que contamina o homem não é o que entra na boca, mas o que sai da boca, isso é o que contamina o homem.

Mateus 15:11

Fantoches com Cordas

O que «entra na boca», literalmente, é o alimento; por analogia introduzimos aqui tudo o que o homem pode consumir, sobretudo ideias e valores. Segundo S. Mateus, prosseguindo o nosso raciocínio, as ideias e valores impostos de fora, por si sós, não podem contaminar o homem. Mas ele pode ser influenciado de inúmeras maneiras e graus - mediante certas técnicas de manipulação - até ao ponto de decidir adoptá-los. Adoptando-os, deixou-se contaminar. É claro que estamos a referir-nos a ideias e valores objectivamente nocivos ao ser humano e contrários à sua natureza.

 

O que «sai da boca» simboliza a nossa expressão, que pode ser materializada em palavras, mas também em actos. Esse é o elemento decisivo à contaminação do homem. Quando ele se move, fala ou age segundo ideias e valores nefastos, incorpora-os, integra-os, interioriza-os. O mesmo pode dizer-se relativamente a valores bons. É característico dos santos, por exemplo, serem irrevogavelmente fiéis a esta verdade de Jesus Cristo:

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32 Quem, pois, me confessar diante dos homens, eu também o confessarei diante do meu Pai que está nos céus.

33 Mas aquele que me negar diante dos homens, eu também o negarei diante do meu Pai que está nos céus.

Mateus 10:32-33

 

 

Nem mesmo para salvar a própria vida um santo reproduziria o acto de negar seu salvador, não por obediência cega, mas porque ele sabe que «o que sai da boca, isso é o que contamina o homem».

 

Uma dissonância cognitiva é uma contradição entre um acto executado pelo sujeito e os seus valores e convicções. O indivíduo que é forçado (dissimulada ou abertamente) a cometer actos contrários aos seus valores se encontrará numa situação psicologicamente problemática. Dependendo do seu grau de consciência, ele poderá entrar num processo de dissonância cognitiva ou não. Quando entra, a tendência será reorganizar o seu psiquismo para reduzir a tensão provocada pela contradição interna. Deste modo, ele procurará harmonizar os seus valores com os seus actos, e na maioria das vezes sacrifica, abandona, ou substitui os primeiros para justificar os últimos.

 

Em todo o caso de dissonância cognitiva existe alguma pressão externa em maior ou menor grau, alguma tentativa de manipulação ou influência sobre o indivíduo, que pode ir da leve sugestão à coerção forçosa.

 

Um elemento fundamental, e que pode fazer toda a diferença na integridade psíquica do indivíduo em situação de coerção (seja em menor ou maior grau), é o sentimento de liberdade, ou, pelo contrário, a consciência da coerção. Quanto mais livre o sujeito se sente - isto é, não está consciente de que está a ser manipulado - mais provável será a dissonância cognitiva; mas se ele sabe que a decisão sobre o seu comportamento no momento não parte de si, mas lhe é imposto, mais protegida estará a sua psique desse fenómeno.

 

Um exemplo prático: face à ameaça de um vírus de baixa letalidade, o uso de máscara em muitos contextos é facultativo, isto é, cada um decide por si. Mas simultaneamente existe uma pressão totalitária e permanente, justificada por apelos, tanto ao sentido de heroísmo das pessoas, quanto ao medo mortal, para usá-la em qualquer circunstância. Neste quadro temos os sujeitos que percebem que estão a ser alvos de manipulação, aos quais o uso da máscara é um pequeno detalhe, um empecilho, e não tem efeito nas suas convicções e valores. Em suma, podem aceitar usar a máscara - mesmo que não queiram - onde é obrigatório ou por respeito a pessoas mais afectadas pela narrativa mediática, mas resistem a incorporar, não só o medo que se está espalhando deliberadamente, como também o papel de vigilantes e denunciadores.

 

Por outro lado, vemos muitos sujeitos que se diziam (e dizem) amantes da democracia, dos direitos humanos e da liberdade, transformarem-se em autênticos agentes dos costumes. Estes sujeitos, por amarem tanto a liberdade, convencem-se que o uso sem critério da máscara é decisão sua e, de forma até ridícula, convencem-se que têm o direito, ou a "liberdade", de reprimir a liberdade dos outros. Por pensarem que adoptaram o uso da máscara por livre e espontânea vontade, e não por influência externa, estes indivíduos tendem verdadeiramente a contrariar a liberdade de que eram defensores, passando a assumir valores substitutivos que justificam a sua acção. Esses sujeitos sofreram de dissonância cognitiva e subverteram por completo os valores que advogavam anteriormente.

 

Muito há para dizer sobre as técnicas disponíveis para se provocar dissonância cognitiva em larga escala, mas vamos terminar este texto lembrando que tais técnicas são comuns tanto aos centros de lavagem cerebral das prisões políticas do século XX, quanto às nossas escolas em 2021.

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Este artigo não pretende discutir as políticas adoptadas, mas apenas apontar o fenómeno psíquico que está a tomar forma na nossa sociedade "pós-coronavirus".

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Escritora

FRANCISCA SILVA

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