O Homem é um aproveitador. Aproveita a terra para fazer barro, o barro para fazer jarros e os jarros para transportar água. Aproveita o trigo para fazer farinha, e a farinha para fazer fermento com a água que ele transportou no jarro. E com essa mesma água, a farinha e um pouco de sal que ele aproveitou das marés, ele faz pão.

 

No campo da política, entendida como a prática de governar o outro, o Homem, ou certos homens, transportam essa qualidade que lhes valeu a sobrevivência milenar. A política do século XXI, que é a única da qual posso falar, pois não lhe escapo e não vivo noutro tempo, é um pão bolorento, feito de aproveitamentos de farinha velha e fermento mal cuidado.

 

O político do século XXI (salvo raras excepções) é aquele que aproveita toda e qualquer migalha, seja trigo, centeio, milho, e mesmo joio, para cozer e recozer esse pão distribuído aos pobres como “o que se pode arranjar” e aos ricos como um prato gourmet.

 

Sendo mais concreto, o político do século XXI (salvo raras excepções) terá grande experiência e sucesso na arte de aproveitar a massa para moldar a forma que desejar, sendo que a massa são as paixões animais humanas e o fogo que as coze são as palavras polidas sem assento na vida real.

 

Um político do século XXI, provavelmente, não saberá fazer pão como um pobre, mas saberá convencer o pobre de que o sabe muito bem, e ainda acabará todos os dias vendendo esse pão ao pobre que sabia fazer bom pão para a semana inteira.

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