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O Homem Que Via Passar os Comboios

Georges Simenon

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Kees Popinga é, num tom de hipérbole, um retrato do lado sombrio da condição humana. Ele não é um homem, mas um símbolo, ou melhor, um sinal de aviso ao leitor sobre a periculosidade inerente à negação de si mesmo enquanto pessoa real.

 

Por “pessoa real” entendemos o homem que se reconhece a si mesmo como criatura, isto é, criado pelo Criador, o que em si é nobre condição. A pessoa real é a que está na realidade. Não a mera realidade física, material, nem mesmo a realidade reduzida a pulsões químicas ou energéticas, mas a realidade humana, se quisermos, a metaxis, o entremeio de Platão, ou a presença sob Deus de Eric Voegelin. Essa estada na realidade (presença sob Deus) é o fundamento do homem moral.

 

Kees Popinga não vive na realidade. Antes, vive num mundo periférico, vazio de substância, sendo esta substituída pelo valor das aparências. Nestas páginas conhecemos as mais altas aspirações deste personagem, aspirações que culminam na correspondência entre a imagem que o meio social tem de si e a sua auto-imagem. E isto parece ser tudo o que a sua consciência aspira.

 

Poderíamos conjecturar que sua alma procurasse mais a partir dos indícios que temos sobre o seu passado. É aí que conseguimos encontrar certos pontos de viragem, ou, se quisermos, de subversão dessa alma desviada. Mas quis o autor que este Kees Popinga fosse traído em tenra idade e assim se tornasse na pessoa fictícia que Simenon nos dá a conhecer.

 

Popinga vive numa mentira. Na primeira fase, leva uma vida baseada em produzir uma imagem que corresponda ao meio social, e na segunda, passa a viver apenas segundo os seus desejos primários. Na primeira, mente aos outros, na segunda, a si mesmo. Mente com honestidade. É uma honestidade pueril, própria de quem ainda não se conhece a si mesmo, mas toma como sua forma essencial a auto-imagem que foi forjando nas peripécias da vida.

 

Aparenta que existe na narrativa uma mudança na personalidade de Popinga. O primeiro Popinga que conhecemos é um homem de aparência exemplar. Não a aparência corporal, mas a aparência da sua vida – bom trabalhador, boa casa, bom dinheiro, boa família, enfim, é o anseio de qualquer burguês. Acrescenta-se também a boa aparência moral. É-nos dito que ele “sempre evitava ser infiel” à esposa, ainda que quisesse, e muitas vezes o queria. Ele desejava corresponder ao que o meio social esperava de si, e as suas ações estavam enraizadas nesse desejo. Além do mais, este Popinga sofre de uma ingenuidade desesperadora, já que vive na ilusão de que os seus camaradas são também exemplares nos seus comportamentos.

 

O segundo Popinga emerge após a revelação de que o seu meio social era, afinal, uma grande mentira. Atrás do véu moralista ele descobre o mundo, por assim dizer, real, esse mundo que desmente a moral falsificada, mundo diametralmente oposto aos bons costumes, e do qual, para sua surpresa, desfrutam os seus companheiros. Esta revelação vem junto com a notícia de que a empresa para a qual trabalha entrará em falência, e à primeira vista poderia pensar-se que esta era a causa da súbita mudança no seu comportamento, porém, rapidamente se entende que o ponto crucial é a permissão que lhe foi dada, não de forma nítida e assumida, mas por aprovação social velada – do seu patrão, para, daí em diante, aceder aos seus desejos mais viscerais.

 

Mas não vemos em Popinga um homem primitivo, descontrolado e emocional. Ele é frio, controlado, suas emoções são áridas e percebe-se que a maioria de seus movimentos são, além de premeditados, avaliados. Há, no entanto, três movimentos decisivos que parecem não ser um produto do seu calculismo, mas antes um fracasso em refrear a necessidade de mostrar a sua alteza. São eles o homicídio de Pamela, sendo que ele considera ter sido levado a tal por razão da atitude da mulher ao ridicularizá-lo, os momentos em que escreve para os jornais em resposta aos artigos publicados sobre a sua personalidade e o seu caso na polícia, e quando ele chega a denunciar por carta à polícia um outro crime que ele mesmo cometeu.

 

A sua relação com os jornais e a polícia é do maior interesse para o diagnóstico deste personagem. Ele parece não conseguir travar-se de fazer correções aos artigos que fazem juízos de valor sobre a sua pessoa. Então ele escreve cartas aos redatores explicando que ele não é louco ou paranóico, tal como eles descreveram, mas outra coisa. Se antes Popinga se movia para fazer sua vida corresponder às exigências sociais de outros, agora ele pretende que os outros se rendam à sua auto-imagem.

 

A soberba é a marca ao longo de toda a relação entre Popinga e seus caluniadores – a Polícia e os Jornais. Ele pensa-se superior, mais inteligente, mais sagaz, contando sempre estar dois passos à frente no jogo. Acha-se de tal modo superior, que cede à necessidade de demonstrá-lo, não percebendo que são precisamente as ações que toma, motivado por tal ilusão, que levam à sua captura. Então ele continua sendo aquele de uma ingenuidade desesperadora.

 

Kees Popinga personifica, se é que pode utilizar-se este verbo, o vazio espiritual. Entendemos que não só as suas ações, mas também seus pensamentos e a consciência que tem de si e do mundo são desprovidas de substância moral. Para ele, suas ações são perfeitamente justificáveis pela sua desprezível vontade, e não vê nelas nenhuma contradição com princípios mais elevados. É um homem que nem reconhece princípios morais, pois sua pseudo-moralidade está ancorada na aparência e não no ser.

 

Perto do fim, temos um vislumbre de uma possível redenção, dado por um fugaz apelo à consciência, vindo, quem sabe do próprio Ser, do mais íntimo de si. É aqui que ele começa a ver a realidade, sabida por todos, menos por ele. Ele é, de facto, louco, talvez psicopata. Ele perdeu o jogo. Mas Popinga não é capaz de confrontar tal verdade sobre si mesmo e rejeita a possibilidade de arrependimento. Prefere a morte, provavelmente uma morte que para ele significa a aniquilação completa da sua existência, sem Além, e isso o leva a uma tentativa de suicídio. Porém, quis o autor que a morte não o encontrasse, mas que a polícia o capturasse.

 

Poderia, ainda assim, nesta captura, resgatar qualquer sobra de alma que lhe restasse? Permanece a questão, dada no seu dito que fecha a narrativa, “Não há verdade, pois não?”

 

Ficaremos sem saber se Popinga renunciou à vida, ou se espera por uma resposta que o leve de volta ao Espírito.

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Escritora

FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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