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Padrões indesejados

Francisca Silva

7 Março 2021

Alguém dizia num podcast, em tom pejorativo, que qualquer monumento comemorativo é um produto ideológico com fins de propaganda. A ideia era, naturalmente, dar uma conotação negativa à existência de monumentos de tal género. Pergunto-me se a pessoa em questão pensa o mesmo sobre os monumentos comemorativos que são “produto da ideologia” que ele advoga.

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Imagem: site oficial do Padrão dos Descobrimentos

Reduzir um monumento comemorativo a esses dois elementos não é realista. A arte sempre foi um meio do homem expressar, homenagear e cultuar valores, deuses, ideias eternas, enfim, aquilo que ele sabe que é maior, por outras palavras, aquilo que o transcende.

 

A pessoa que repetia essa frase colocava como contrário – isto é, como produtos não ideológicos nem com fins de propaganda, e por isso não condenáveis – os monumentos que, apesar de serem históricos e usados hoje para manter a memória nacional, têm ou tiveram uma finalidade que não essa, por exemplo, a Torre de Belém, que era um edifício militar.

 

Ora, quando uma sociedade, seja uma tribo ou uma civilização, ergue um monumento de celebração ou culto, está subentendido que existe na base um conjunto de valores que o homem quer eternizar – não que ele tenha esse poder, pois pressupõe-se que os valores verdadeiros são, em si, eternos, mas ele quer conservar esses valores – é essa a sua utilidade.

 

Eis o nó desta questão – é uma luta pelo domínio do espaço público, e esse domínio estabelece-se por meio de símbolos, por sua vez ligados a ideias ou valores. Quando um deputado defende a demolição do Padrão dos Descobrimentos, o que ele realmente quer é a demolição dos valores que esse monumento representa. Mas há aqui um truque.

 

O que simboliza o Padrão? Segundo o site oficial, «evoca a expansão ultramarina portuguesa, sintetiza um passado glorioso e simboliza a grandeza da obra do Infante D. Henrique, o impulsionador das descobertas». A essência do monumento conserva certos traços humanos, que não são exclusivos da identidade portuguesa, mas sim da condição humana no seu mais alto nível: a coragem, a perseverança, o desejo de progresso, a evangelização, etc.

 

Acontece que os humanos ali representados eram portugueses, e isto é um facto histórico. Os portugueses partiram para a descoberta e conquista de território com o intuito de civilizar sociedades subdesenvolvidas – isto não é diferente do que hoje advoga a ONU, com os seus planos de desenvolvimento nos países de terceiro mundo. O que hoje se chama “países em desenvolvimento” é equivalente ao que eram as tribos de indígenas da época dos descobrimentos.

 

Desengane-se quem pensa que o que estou a relatar é um embelezamento da realidade. Tenho perfeita noção de que estas virtudes tinham na época (como têm hoje e sempre) os seus opostos. Havia escravatura, guerra, conflito, ambição desmesurada. Hoje ainda temos escravatura, tráfico humano, uso generalizado de drogas, criminalidade excessiva. Tudo isto não impede a existência de virtudes e de homens que procuram fazer o bem, aliás, esta é a nossa realidade – o bem e o mal crescem juntos, como o trigo e o joio, e a razão deste facto é misteriosa, mas boa. Sem esta conjuntura não faria sentido a consciência moral nem a existência do livre-arbítrio.

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Imagem: site oficial do Padrão dos Descobrimentos

A esquerda, na generalidade, tem trazido ao debate público a ideia de que este tipo de monumentos que celebram a história portuguesa, especialmente grandes feitos, são ofensivos para minorias étnicas, ou são antagónicos à defesa dos direitos humanos, pelo motivo da coexistência da escravatura e outras barbaridades no processo dos descobrimentos. Mas consideram que está de acordo com a defesa dos direitos humanos tornar o uso de drogas leves generalizado, ou matar uma criança no útero. É caso para perguntar a estas pessoas o que entendem por “direitos humanos”, já que nestes exemplos está patente e claro o assalto à pessoa humana. Ademais, são estas pessoas que frequentemente negam as contribuições cruciais de muitos destes colonizadores para o avanço da civilização ocidental, e, consequentemente, da valorização dos direitos humanos. A verdade é que o melhor que adveio da saga dos descobrimentos deve-se à missão cristã, e a esquerda actual tende a desprezar o cristianismo - mas isto é um tema a ser desenvolvido em outro artigo.

 

Por que isto acontece? Porque a agenda da esquerda não tem compromisso com valores reais, apenas com o domínio da cultura e do espaço público, que é uma forma de obter o poder sobre as massas. Para isto, a táctica é desmoralizar os exemplos de virtude que fomos construindo na nossa memória histórica. Ou seja, quando alegam que estão a combater racismos, violações dos direitos humanos, homofobias e outros termos da moda, o que estão realmente a fazer é a glorificar os vícios e defeitos da personalidade humana, de modo a que engulam e substituam qualquer réstia de virtude.

 

É que, reparem, somos todos imperfeitos. Não há absolutamente nenhum ser humano – a não ser Jesus Cristo, que era mais que humano – que possa servir de modelo perfeito, sem defeitos ou vícios. Quando nós, como sociedade, celebramos alguém na forma de um monumento, estamos, de certo modo, a mitificar essa pessoa. Não é a pessoa particular que celebramos, mas as suas virtudes, que nos servem de exemplo.

 

Se o Padrão dos Descobrimentos simboliza coragem, aventura, sentido de missão, evangelização e desejo de progresso, é natural que a ala da esquerda radical queira derrubar tais valores, pois o que eles precisam é que a sociedade seja mansa, comodista, ateia, e sem iniciativa. Para isto, é preciso apagar os exemplos que têm sido conservados. Eis o truque: primeiro, modifica-se nas mentes individuais, por meio da ocupação da comunicação social, os significados dos ícones; depois destrói-se o monumento. Em poucos anos, pouca gente saberá que ali havia um Padrão dos Descobrimentos. E isto, aliado com a militância nas escolas, em breve finalizará o processo que já foi iniciado em Portugal há décadas – o de transformar uma das grandes potências numa facção de um poder globalista. De rosto a cauda da Europa, Portugal está em coma há demasiado tempo. Resta saber se vão desligar as máquinas, ou se há esperança de despertar.

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Escritora

FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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